A Santíssima Trindade

A Santíssima Trindade

quinta-feira, 16 de abril de 2015

1 - Agradecimento a Deus Pai


Então aquela serva, inebriada de amor, sentia o coração ferido por grande amargura. Voltou-se para Deus e disse-lhe:

-Ó Deus eterno, sublime luz, fonte da luz, chama superior a qualquer outra, única a arder sem se consumir! Somente tu destróis o pecado e o egoísmo, por acaso existentes no homem, sem fazê-lo sofrer, mediante o alimento de um insaciável amor. E quando sacias, sempre mais ele te deseja; quanto mais te possui, mais te procura, acha-te e te experimenta. Ó fogo eterno, ó abismo de amor!

Bem sumi e eterno, Deus infinito, quem te levou a iluminar-me, pobre criatura que sou, com a luz da tua verdade? Tu mesmo, ó foco de amor. Foi sempre o amor que te obrigou – e obriga – a nos criar à tua imagem e semelhança, a nos perdoar com a doação de graças incontáveis, infinitas.

Ó bondade superior a toda bondade; somente tu és bom! Enviaste-nos o Verbo, teu Filho unigênito, para que convivesse com os homens, criaturas empobrecidas e tenebrosas. Quem realizou tal coisa? O amor, pois tu nos amaste antes que existíssemos. Ó bondade, ó grandeza eterna, tu te fizeste pequenino para que o homem ficasse grande. Para qualquer lado me volte, nada mais vejo que o abismo flamejante do teu amor. Seria eu por acaso tão pobre que iria devolver-te os dons e o inflamado amor que demonstraste – e demonstras – para com os homens, tanto em geral como em particular? Teu próprio amor te agradecerá. Eu sou aquela que não sou. Se afirmasse que sou alguma coisa, mentiria. Seria uma enganadora, uma filha do pai da mentira. Tu somente és aquele que é. De ti recebi a existência e os demais dons. Tudo, como presente de amor;  nada me era devido.

Ó Pai, a humanidade jazia enferma por causa do pecado de Adão; tu enviaste o amoroso Verbo encarnado como médico. A mim mesma, quando estava enferma por negligência e maldade, tu, Deus eterno, médico bondoso, me deste o medicamento doce-amargo, que me curou e reergueu. Quanto me é suave o fato de te revelares a mim no amor! Quanto me é agradável teres iluminado minha inteligência com a luz da fé! Nessa Luz, por tua vontade, entendi a grandeza concedida ás pessoas quando se distribui o sacramento de todo-Deus e todo-Homem na jerarquia da santa Igreja, bem como a dignidade dos sacerdotes, encarregados de fazê-lo.

Desejei que cumprisses aquela tua promessa, e tu fizeste muito mais. Concedeste o que nem sabia pedir. Conscientizei-me assim de que o coração não sabe pedir, nem desejar quanto és capaz de dar. Vejo que tu pés aquele que é, bem infinito e eterno, enquanto nós somos aqueles que não são. Por seres o infinito e nós o finito, dás o que o homem não sabe ou não pode querer. Realmente o homem desconhece quanto sabes, quanto podes, quando queres enriquecer sua alma com riquezas que ele nem pede, e por caminhos intensamente belos. Foi assim que eu compreendi, em grande luz e amor quanto queres bem a todos os homens, especialmente aos sacerdotes. Eles são os anjos da terra. Fizeste-me ver a santidade e felicidade dos teus ungidos que no passado viveram a justiça. Foram verdadeiras lâmpadas ardentes da santa Igreja. Com isso percebi melhor os defeitos dos sacerdotes que vivem no pecado e senti grandíssima dor pelas ofensas que cometem contra tu, pelos danos que o mundo inteiro recebe. Como espelhos de pecado, eles danificam a todos, pois deveriam refletir a virtude. Tu me revelaste tais coisas, tu te lamentaste comigo, responsável que sou por tantos males. Sofri uma dor imensa.

Ó amor sem preço, tu revelaste tais coisas e me deste aquele medicamento doce-amargo, que me afastou da maldade e da negligência, para que recorresse a ti com zelo e solicitude, para que me conhecesse, conhecesse  a ti, tomasse consciência dos males com que tanto te ofendem, especialmente os sacerdotes.  Queres que eu derrame um rio de lágrimas sobre mim mesma e sobre tais mortos, extraindo-as pela consciência do teu amor infinito. Vivem tão mal os sacerdotes! Ó fogo inefável, amor de caridade, Pai eterno! Quero que jamais diminua o meu desejo santo pela tua glória e salvação dos homens. Que meus olhos não se esgotem. Sejam como dois mananciais a brotar de ti, mar de paz.

Agradeço-te, agradeço-te, ó Pai! A o atender meu pedido, ao mostrar-me quanto eu não implorava por desconhecer, deste-me razões de chorar e oferecer amorosos anseios diante de ti, com oração humilde e contínua.

2 - Oração pelo mundo e pela Igreja

Rogo-te, agora, tem piedade do mundo e da santa Igreja. Cumpre aquilo que prometeste. Não demores em usar de misericórdia para com o mundo. Escuta e realiza o desejo de teus servidores. Tu mesmo os fizeste chamar; escuta, pois, as suas vozes. Teu Filho aconselhou que chamássemos, pois obteríamos resposta; que batêssemos que a porta nos seria aberta; que pedíssemos, pois haveríamos de receber.

Ó Pai, teus servidores imploram misericórdia; responde-lhes, pois. Sei que a misericórdia é atribuída a ti; não podes deixar de concedê-la a quem suplica. Teus servidores batem a porta do teu Filho; eles conhecem o amor que tens pelo homem e por isso batem à tua porta. A chama do teu amor não pode, não há de recusar a quem insiste com confiança. Abre, pois. Descerra, despedaça os corações endurecidos dos teus filhos. Eles mesmos nada pedem; escuta, porém, em força de tua infinita bondade e por amor dos teus servidores, que suplicam por eles. Vê como se acham ante a porta do teu Filho e clamam.

Que te pedem eles? O sangue do teu Filho. Em tal sangue lavaste o pecado e apagaste a mancha da culpa de Adão. É sangue nosso, nele nos lavaste. Não irás desdizer-te , nem o queres diante de quem te implora. Concede, pois, aos homens o fruto do sangue, Coloca no prato da balança o peso do sangue de Jesus, para que o demônio não mais arrebate as ovelhinhas. Tu és o bom pastor, deste-nos o Filho. Por obediência, ele morreu pelas ovelhas, lavando-as no sangue. É esse sangue que teus servidores pedem, como mendigos à tua porta. Rogam pelo mundo; que o perdoes. Que a santa Igreja floresça novamente com bons e santos pastores; que desapareça a iniqüidade dos ministros maus.

Ó eterno Pai! Prometeste misericórdia para o mundo, prometeste reformar a santa Igreja, prometeste dar-nos conforto pelo amor que tens aos homens e em atenção à oração dos teus servidores, bem como pela paciência que demonstram nas adversidades. Não demores em volver-nos um olhar piedoso, Já que amas dar resposta antes que peçamos, dize uma palavra de perdão. 

Abre a porta da tua inestimável, caridade, manifestada a nós no Verbo encarnado. Bem sei que a abres antes de pedirmos. Baseando-se no próprio amor que lhes deste, teus servidores clamam à procura de tua glória e da salvação humana. Concede-lhes o pão da vida, ou seja, o fruto do sangue. Eles o imploram para a glória do teu nome e para a santificação dos homens. Ao que parece, a salvação de numerosas pessoas da maior glória a ti, do que se todos fossem deixados na obstinação do mal. Tudo te é possível, Pai eterno. Embora nos tenha criado sem nossa colaboração, sem ela não nos queres salvar; rogo-te, pois, que faças tais pessoas desejar quanto os teus servidores imploram. Eu o imploro por teu infinito amor. Tu nos criaste do nada; agora existimos. Perdoa e reforma os vasos construídos à tua imagem e semelhança; reforma-os para a graça na misericórdia do sangue de teu Filho.


O Diálogo


Nenhum comentário:

Postar um comentário